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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Professor Zartur

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publicado em 08/03/2025 ás 08h26

Nunca me arrependi do que fiz, só me arrependo do que não fiz. Entre os piores arrependimentos da minha vida coloco em destaque nunca ter ido me consultar com o Professor Zartur. Sempre que eu descia pela rua Santo Elias e via aquela casa situada à esquerda logo depois da Justiça do Trabalho com dezenas de animais empalhados expostos nas paredes no terraço batia uma vontade enorme de procurar o taxidermista que realizava aquele macabro trabalho, até que um dia me disseram tratar-se da casa do professor Zartur, famoso por prever o futuro, inclusive mantendo um programa de rádio nas madrugadas pessoenses. De futurólogos aqui na Paraíba eu só conhecia Alan Kardec de quem era amicíssimo. Não confundam com o verdadeiro Kardec, por quem sempre nutri respeito e admiração. Se não fosse católico com certeza caminharia pelo espiritismo tão belos são seus ensinamentos. Refiro-me ao Alan Kardec que morava em Jaguaribe e que brevemente merecerá um escrito. Por hora fiquemos com o professor Zartur.

De tantas histórias que colecionei dele uma mais fascina porque ninguém me contou, eu mesmo ouvi em seu programa radiofônico.

E que programa. Tinha uma estrutura simples; uma secretária que lia as cartas dos consulentes perguntando sobre todo tipo de assunto e ele, o professor Zartur, com sua voz grave, aveludada. A cada carta lida, ouvia-se uma musiquinha tipo uns sinos tocando num crescente blim, blim, blim e logo depois decrescendo para outros blim, blim, blins. E então ouvia-se aquela voz inconfundível respondendo ao que fora perguntado.

A consulta à qual me refiro foi lida pela secretária, que tinha mania de dar entonações bem peculiares às palavras, a depender do contexto. “- Meu caro professor Zartur; eu “vevo” com um homem e “nóis” tem 5 filhos. Mas ele é casado com a verdadeira e tem 9 filhos com ela. Eu queria saber, professor, se eu vou ser feliz com ele ou não”.

Entravam os sinos e em seguida aquela voz aveludadamente grave dizia: “- Minha presada consulente; se você vai ser feliz com ele OU NÃO (esse detalhe é importante, com a voz anasalada e mais grave ele pronunciava o “ou não”) eu não sei dizer, mas esse negócio de ter 14 filhos é coisa de mocó.”. E seguia o programa com outras consultas malucas e respostas mais estapafúrdias ainda.

Até hoje desconfio que aquelas cartas eram escritas pelo próprio professor.

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