João Pessoa, 08 de março de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nunca me arrependi do que fiz, só me arrependo do que não fiz. Entre os piores arrependimentos da minha vida coloco em destaque nunca ter ido me consultar com o Professor Zartur. Sempre que eu descia pela rua Santo Elias e via aquela casa situada à esquerda logo depois da Justiça do Trabalho com dezenas de animais empalhados expostos nas paredes no terraço batia uma vontade enorme de procurar o taxidermista que realizava aquele macabro trabalho, até que um dia me disseram tratar-se da casa do professor Zartur, famoso por prever o futuro, inclusive mantendo um programa de rádio nas madrugadas pessoenses. De futurólogos aqui na Paraíba eu só conhecia Alan Kardec de quem era amicíssimo. Não confundam com o verdadeiro Kardec, por quem sempre nutri respeito e admiração. Se não fosse católico com certeza caminharia pelo espiritismo tão belos são seus ensinamentos. Refiro-me ao Alan Kardec que morava em Jaguaribe e que brevemente merecerá um escrito. Por hora fiquemos com o professor Zartur.
De tantas histórias que colecionei dele uma mais fascina porque ninguém me contou, eu mesmo ouvi em seu programa radiofônico.
E que programa. Tinha uma estrutura simples; uma secretária que lia as cartas dos consulentes perguntando sobre todo tipo de assunto e ele, o professor Zartur, com sua voz grave, aveludada. A cada carta lida, ouvia-se uma musiquinha tipo uns sinos tocando num crescente blim, blim, blim e logo depois decrescendo para outros blim, blim, blins. E então ouvia-se aquela voz inconfundível respondendo ao que fora perguntado.
A consulta à qual me refiro foi lida pela secretária, que tinha mania de dar entonações bem peculiares às palavras, a depender do contexto. “- Meu caro professor Zartur; eu “vevo” com um homem e “nóis” tem 5 filhos. Mas ele é casado com a verdadeira e tem 9 filhos com ela. Eu queria saber, professor, se eu vou ser feliz com ele ou não”.
Entravam os sinos e em seguida aquela voz aveludadamente grave dizia: “- Minha presada consulente; se você vai ser feliz com ele OU NÃO (esse detalhe é importante, com a voz anasalada e mais grave ele pronunciava o “ou não”) eu não sei dizer, mas esse negócio de ter 14 filhos é coisa de mocó.”. E seguia o programa com outras consultas malucas e respostas mais estapafúrdias ainda.
Até hoje desconfio que aquelas cartas eram escritas pelo próprio professor.
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PRESO POR ABUSO - 07/03/2025