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Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, era filho de Raimundo Joaquim Patriota e Severina Guedes Patriota; nasceu no dia 06 de janeiro de 1915 e faleceu no dia 05 de dezembro de 1992. Era natural de São José do Egito. Atuou como poeta repentista em quase todas as cidades da Paraíba ao lado do também repentista Pinto do Monteiro. Começou a cantar em 1930. Era o mais velho dos irmãos repentistas, Dimas e Otacílio. No ano de 1932, não fora por intervenção de sua mãe, teria lutado na revolução constitucionalista, em São Paulo, com apenas 17 anos de idade. Em 1933, enfrentou uma jornada de 97 dias andando do Recife até Itapetim que à época pertencia a São José do Egito, distante 422 quilômetros do Recife. Antes, porém, cruzou a Paraíba e esteve no Rio Grande do Norte, para só depois retornar.
Louro do Pajeú, foi um dos cantadores de maior fama no mundo da cantoria nordestina, sendo considerado o” Rei dos Trocadilhos”. Satírico e rápido no improviso, era temido por seus adversários. Participou de vários festivais de cantoria, ganhando prêmios e admiração dos amantes do repente. O maior parceiro de Louro foi Pinto do Monteiro. As pelejas desses dois cantadores tornaram-se verdadeiras antologias e patrimônio da cantoria nordestina. Por mais de 30 anos, Pinto do Monteiro e Louro do Pajeú, percorreram os sítios do interior, cantando de improviso e com rimas bem metrificadas, nas sacadas das casas de fazendas a convite de seus donos ou em praças públicas de pequenas cidades interioranas. A cantoria era paga com as doações dos que assistiam, colocando o dinheiro no numa bandeja, no meio do salão, em frente à dupla de repentistas.
Cantando com Pinto em “Oito pés de Quadrão”, Louro fez os seguintes versos:
Cantar comigo é um risco/quebra pedra, espalha cisco/vem trovão, e vem corisco/vem corisco e vem trovão/desce água em borbotão//as águas formando tromba/teu açude, agora, arromba/nos oito pés de quadrão.
Pinto respondeu assim:
Meu açude não arromba/nem a sua parede tomba/porque dois pés de pitomba/sustentam seu paredão/haja pitomba no chão,/n’água rasa e n’água funda;/leve pitomba na bunda/nos oito pés de quadrão.
Lourival casou-se com Helena Marinho, filha do grande e lendário repentista Antônio Marinho e tabeliã do cartório de São José do Egito. Helena criou os oito filhos de Louro, dando à família a estabilidade que a vida de boemia e de cantorias em outras cidades não permitia. Disse Louro sobre Helena:
De fato devo ter pena/meu amável companheiro/de minha querida Helena/que é meu amor verdadeiro/mas quando vou com a pena/ela já vem com o tinteiro.
Lourival carregava consigo o gosto pela simplicidade da vida, o desapego ao dinheiro e às coisas materiais. Era conhecido em São José do Egito por doar comida e dinheiro aos pobres e aos mendigos da cidade e loucos que frequentemente almoçavam na casa do poeta. Cantando sobre a pobreza e o valor do cantador, Louro mostrou porque ganhou o título de Rei dos Trocadilhos:
É muito triste ser pobre/para mim é um mal perene…/trocando o “p” pelo “n”,/é muito alegre ser nobre;/sendo “c” é cobre/cobre, figurado, é ouro/botando o “t”, fica touro/como a carne e vendo a pele/o “t”, sem o traço, é “l”/termino só sendo Louro.
No dia 06 de janeiro é comemorado o aniversário de Louro com a presença de muitos cantadores de quase todos os Estados do Nordeste que vão até São José do Egito para prestigiá-lo. O dia 06 tornou-se, assim uma forma de lembrar a poesia de Louro e de saudar os poetas da região, relembrando a grandeza do Pajeú, como terra de grandes poetas do repente. Lourival ainda continua sendo referência para muitos poetas. Com profundidade, Louro descreveu nestas décimas os prazeres e desgostos da atividade, não só do palhaço, mas de todo artista.
Palhaço que ri e chora:
Pinta o rosto, arruma palma
Dentre os néscios e sábios
O riso aflora-lhe os lábios
A dor tortura-lhe a alma.
Suporta com toda calma
Desgosto a qualquer hora;
Ama sim, mas vai embora
Vive num eterno drama:
Pensa, sonha, sofre e ama
Palhaço que ri e chora.
Tem horas de desespero
Quando a vida desagrada
Sentindo a alma pecada
Tem que ir ao picadeiro.
Se ama esquece ligeiro
Porque ali não demora
Chagas dentro, rosas fora
Guarda espinho, mostra flor
Misto de alegre e dor
Palhaço que ri e chora.
Se quer alguém com desvelo
Deixar é martírio enorme
Se vai deitar-se não dorme
Se dorme tem pesadelo.
Sentindo um bloco de gelo
Lhe esfriando dentro e fora
Desperta, medita e chora.
Sente a fortuna distante
Julga-se um judeu errante
Palhaço que ri e chora.
Alberto da Cunha Melo, poeta pernambucano, ao escrever sobre Lourival Batista Patriota – O Louro do Pajeú, disse que este “dedicou-se exclusivamente ao seu destino andarilho de cantador de viola, tornando-se o mais famoso dos três, marcando profundamente a mitologia poética de uma cidade – São José do Egito – e de uma família – Batista – Patriota. Foi no Recife, numa capital que detinha à época o título de terceira cidade do Brasil, que Lourival Batista iniciou sua trajetória de cantador e poeta-repentista, no início da década de 1930”.
Louro disse certa vez que “depois de ouvir Cesário José de Pontes cantar no Mercado de São José, no Recife, no início da década de 1930, pensei: eu também faço isso…”
Eu comecei com um cego
A minha vida de artista
Cesário José de Pontes
Que foi grande repentista
Depois que o cego morreu
Fiquei guiando os com vista.
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PROJETO DE LEI - 14/03/2025