João Pessoa, 17 de março de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Minha mãe sempre dizia coisas assim, sentenças curtas que carregavam o peso de uma sabedoria ancestral, aprendida na lida da vida. A frase, “às vezes as pessoas te odeiam pela forma como os outros te amam”, ressoava na minha mente como um mantra, tão real quanto a verdade que a sustentava. Minha mãe não é a Mãe de Gorki, o romance de Máximo Gorki, inspirado nas manifestações do Dia do Trabalhador de 1902 da cidade de Sormovo, nas repressões e nos julgamentos czaristas aos trabalhadores. Não, minha mãe é minha mãe.
Ela não precisava de grandes explicações. A simplicidade da sentença era a sua força. Sua sabedoria não se encontrava em tratados filosóficos, mas na observação atenta da natureza humana, daquela que ela, com sua experiência de vida, conhecia tão bem.
Lembro-me de vezes em que a frase ressoou com mais intensidade. E nunca esqueci: “às vezes as pessoas te odeiam pela forma como os outros te amam” Situações em que a admiração de alguns gerava a inveja, a repulsa silenciosa, ou até mesmo a agressão velada de outros. Como se o amor dos outros fosse uma ameaça, uma usurpação daquilo que eles mesmos não conseguiam alcançar.
A frase da minha mãe não era um julgamento, mas uma constatação. Uma compreensão profunda da complexidade das relações humanas, dos sentimentos ambivalentes que nos habitam e das inseguranças que nos movem. Não se tratava de buscar culpados, mas de entender o mecanismo, a dinâmica, a dança sutil entre amor e ódio, admiração e inveja. E ela estava certa
Ela me ensinou, me ensinava e ainda me ensina, sem palavras explícitas, a não me deixar abater pela incompreensão alheia. A não buscar a aprovação universal, a entender que o amor genuíno atrai tanto admiração quanto ressentimento. O importante era a autenticidade, a coerência com os meus valores e com a minha essência.
A sabedoria da minha mãe, contida em frases tão simples, era um guia, é um guia, para navegar pelas águas turbulentas das relações humanas. Um mapa para lidar com as contradições, as injustiças e as incoerências que permeiam a nossa existência entre seres ou não seres. E, a cada dia que passa, eu compreendo melhor o significado daquela frase, “às vezes as pessoas te odeiam pela forma como os outros te amam” – tão real quanto a verdade. Uma verdade que ressoa até hoje, um legado de amor e sabedoria. Obrigado, mãe!
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
EM JOÃO PESSOA - 17/03/2025