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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Por que sua empresa não cresce? 

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publicado em 24/04/2025 ás 07h22

Quando um negócio começa a estagnar, é comum ouvir um diagnóstico apressado. Dizem que o mercado esfriou, que a concorrência aumentou, que o cliente não quer pagar por qualidade. Mas será mesmo que o problema está do lado de fora?

Na Paraíba, onde o espírito empreendedor pulsa em cada esquina, é fácil encontrar empresas promissoras que não decolam. Elas investem em marketing, melhoram o produto, contratam consultorias, atualizam a identidade visual, mas continuam paradas no mesmo lugar. E quase ninguém se pergunta se o que está travando o crescimento é a cultura interna da própria organização.

Muita gente confunde cultura com clima. Clima é o que se sente. Cultura é o que se faz, mesmo sem perceber. É o jeito de pensar, agir, decidir e se relacionar. É aquele padrão invisível, mas poderoso, que diz “aqui sempre foi assim” e vai moldando comportamentos, travando mudanças, sabotando inovações. A cultura organizacional é o que define como as pessoas reagem à pressão, enfrentam erros, aprendem com crises e acolhem ou afastam o novo.

Imagine uma empresa de tecnologia com sede em João Pessoa que cresce rápido, conquista clientes e começa a montar equipe. Os fundadores, jovens e determinados, saíram da universidade direto para o mercado, mas seguem operando como se ainda estivessem numa sala improvisada da faculdade. Tudo se resolve na conversa, ninguém quer planejamento, processos são vistos como burocracia. Em pouco tempo, os talentos se cansam, os projetos empacam, os resultados param de crescer. A empresa, que parecia promissora, estagna. Agora pense em uma empresa familiar no interior que atua no setor de alimentos. Consolidada, respeitada, com décadas de mercado. Os filhos assumem o comando com novas ideias e muita vontade de inovar. Mas encontram resistência dentro da equipe. Os antigos funcionários seguem dizendo que “é melhor fazer como o seu pai fazia”. A cultura, que antes era um diferencial, agora virou uma barreira. E o crescimento trava.

Talvez o problema não esteja no mercado. Talvez esteja no modo de pensar da organização, que ficou antigo demais para o cenário atual.

Foi isso que aconteceu com a Digital Equipment Corporation, uma gigante americana dos anos sessenta. Sua cultura, baseada em excelência técnica, liberdade intelectual e insubordinação criativa, fez dela uma das empresas mais admiradas da época. Mas, quando o mundo passou a valorizar soluções mais simples, acessíveis e velozes, ela não conseguiu mudar. A cultura que sustentou seu sucesso se transformou em obstáculo. E a empresa desapareceu.

Na Paraíba, esse risco também existe. Negócios que nasceram com base na força, no improviso e na tradição, muitas vezes têm dificuldade de atualizar seus códigos invisíveis. Continuam operando com os mesmos hábitos, os mesmos discursos e os mesmos vícios, mesmo que o mundo lá fora esteja em outro ritmo.

Quando a empresa começa a repetir as mesmas ideias, as mesmas reuniões e os mesmos silêncios, é hora de acender o alerta. Quando o medo de errar supera a vontade de tentar, quando os mais novos não têm voz, quando só uma pessoa toma todas as decisões, mesmo com uma equipe formada, talvez o freio não esteja na economia, nem no cliente, mas na cultura.

Cultura não se muda com um cartaz na parede ou com um evento motivacional. Mas pode começar a se transformar com ações pequenas e conscientes. Criar espaços onde as pessoas possam pensar diferente sem medo de punição. Questionar frases prontas que bloqueiam o novo. Valorizar mais a atitude do que o tempo de casa. Ouvir quem chegou agora com atenção genuína. E, acima de tudo, parar de romantizar o passado. O que trouxe a empresa até aqui pode não ser suficiente para levá-la mais longe.

O maior perigo de uma cultura é que ela não aparece no espelho. Ela é invisível, mas decide os rumos do negócio. Na Paraíba, temos gente talentosa, criativa e cheia de vontade. Mas para crescer de verdade, talvez seja necessário revisar o que carregamos dentro das empresas. Antes de procurar soluções fora, vale a pena perguntar: o que aqui dentro ainda está impedindo a mudança?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB