Francisco Leite • MaisPB https://www.maispb.com.br/categoria/colunistas/francisco-leite Soma de conteúdo com credibilidade Thu, 11 Jul 2024 23:49:35 +0000 pt-BR hourly 1 112837577 Confissões de um patriota: a tributação do viagra em xeque https://www.maispb.com.br/731907/confissoes-de-um-patriota-a-tributacao-do-viagra-em-xeque.html Fri, 12 Jul 2024 10:00:08 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=731907 Pelo imposto do pegado, eu aceitaria a tributação dos caixões de defuntos, da farinha, das rapaduras, das carnes e de outras guloseimas consumidas pela patuleia, mesmo que atingisse alguns patriotas pobres de direita, mas tributar o viagra, jamais! Nem das armas e munições. Muito menos das pimentas malaguetas, daquelas vermelhinhas que ficam piscando nos portais […]

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Pelo imposto do pegado, eu aceitaria a tributação dos caixões de defuntos, da farinha, das rapaduras, das carnes e de outras guloseimas consumidas pela patuleia, mesmo que atingisse alguns patriotas pobres de direita, mas tributar o viagra, jamais!

Nem das armas e munições. Muito menos das pimentas malaguetas, daquelas vermelhinhas que ficam piscando nos portais e letreiros dos motéis. Questão de incentivo aos patriotas. Lembrem-se que o governo Bolsonaro adquiriu milhares dos azulzinhos para fermentar a dita dura em um futuro próximo. Quem sabe nosso mito, dos velhinhos empedernidos das casernas, não fosse precisar no dia 8 de janeiro!

Fico me perguntando o porquê do atual governo comunista querer zerar a alíquota da carne, inclui-la na cesta básica, alimentar a fome inesgotável de um povo feio cada vez mais exigente. Conluio com os ricaços do agro? Que paradoxo é esse? Já não se faz esquerdeopatas como antigamente.

Lira quem tem razão. Pobre de direita comendo carne amaciada pela falta de tributação? Nem pensar. Se pelo menos fosse pescoço de galinha, tudo bem. Por isso, sou conservador, protetor dos bons costumes e da família, um empreendedor nato! Faz o “L”, faz!

Ora, ora. Nunca houve proteína na cesta básica, porque só agora? No governo patriota zerou-se a tributação dos jet skys, diminuiu-se a tributação de armas, mas desonerar a tributação de carne, isso é coisa de comunista, comedor de mortadela.

Tempos bons, aqueles… Dispensou-se os negócios das igrejas de impostos, tentou-se burlar o fisco com a entrada de joias da Arábias, comeu-se farofa nas ruas de Nova York, outros tempos, nova era, tudo perdido para um nordestino obtuso casado com uma novinha com cara de salame requentada.

E agora, tempos de perdição, zera-se o imposto dos absorventes. Que igualdade é essa?  Se esses apetrechos femininos não são tributados, porque o mesmo não acontece com a prótese peniana, digo com a tadalafila dos velhinhos da caserna? Ser homem branco, hétero, conservador nesse país de merda é uma merda. A gente não pode xingar o nine, nem a mãe dele, a gente não poder fazer piada com veadagem, não pode cantar a mulherada, a gente não pode, não pode, não pode. Quem há de nos proteger desses filhos de uma puta?  A bancada da Bíblia? Da bala? Do boi?  Ah, que saudades do Messias!

@professorchicoleite

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Que vinho bom https://www.maispb.com.br/730835/que-vinho-bom.html Fri, 05 Jul 2024 10:34:57 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=730835 Todos recomendam uma orientação para o futuro. Que o passado deve ficar em suas confabulações insatisfeitas, salvo as saudades boas, que reconfortam a alma. O futuro, no entanto, quase sempre, é acalentador. O porvir tem, em si, a esperança, suas lantejoulas, o deslumbramento das ausências ainda não provadas, apenas desejadas. Promessas. Acho que eu já passei por esse embotamento do juízo. Depois que a gente cruza o cabo das tormentas, passado e futuro são quase equivalentes. Pouco valem, mas valem alguma coisa. Deitado […]

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Todos recomendam uma orientação para o futuro. Que o passado deve ficar em suas confabulações insatisfeitas, salvo as saudades boas, que reconfortam a alma. O futuro, no entanto, quase sempre, é acalentador. O porvir tem, em si, a esperança, suas lantejoulas, o deslumbramento das ausências ainda não provadas, apenas desejadas. Promessas.

Acho que eu já passei por esse embotamento do juízo. Depois que a gente cruza o cabo das tormentas, passado e futuro são quase equivalentes. Pouco valem, mas valem alguma coisa.

Deitado em uma rede na varanda, olho o céu. A lua é destaque. As luzes da cidade não mostram à suficiência as estrelas, mas uma delas pisca como essas mortesarrependidas que perdem o fôlego, mas resistem. Os cientistas dizem que a estrela já morreu há milhões de anos-luz, mas se ainda vejo seu brilho, me é presente.

Olho para o meu passado. Vejo o futuro. Posso colocar dentro dele o que eu quiser, afinal tudo que não existe é abstração, por isso é bem mais fácil enganar-se com o que já passou do que com o que há de vir.

Depois dos sessenta anos, eu sosseguei o meu juízocom o passado e, porque não tenho pretensões de ter saudades de um futuro, abandonei-me ao presente.  Claro que a essas alturas, eu continuo bobo. O presente também não existe, pois é derrocada do seu máximo no crescente de algum presente. Como o futuro, só existe em abstraçãoque já fora um dia. Mas posso garantir. Passado e futuro são mais estáveis do que o presente. Se quisermos radicalizar, asseguramos que é muito mais seguro.

O presente é, apenas, uma questão de pragmática, aquele tipo de nó quântico que nos diz que estamos em vida. A rigor, o passado não existe porque já se foi; o futuro não é ainda, e o presente, ah, o presente é o ponto cego da existência. Quando se fecha o olho, ele já se foi.Mas há tempo de sorrir. O sorriso sempre será as nossas reticências.

Se é assim, sorria meu bem. Uma taça de vinho ajuda a comprimir o passado, o futuro e o presente em uma mesma realidade. Dormir é bom, diz Morfeu. Eu fecho os olhos e me entrego aos sonhos. Oh, que vinho bom!

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Deus e eu https://www.maispb.com.br/729739/deus-e-eu.html Fri, 28 Jun 2024 10:00:03 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=729739 Apesar das brigas constantes e desconfianças recíprocas, nos respeitamos. Sempre foi assim, desde quando, lá nos confins da minha infância, me apresentaram Deus. Chegou petulante, imposto pelos meus pais, pelas missas e novenas, pela catinga de vela queimada, flores secas, o incenso do oratório, um cheiro adocicado, o medo do inferno. Depois, apresentou-se vingativo e […]

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Apesar das brigas constantes e desconfianças recíprocas, nos respeitamos. Sempre foi assim, desde quando, lá nos confins da minha infância, me apresentaram Deus.
Chegou petulante, imposto pelos meus pais, pelas missas e novenas, pela catinga de vela queimada, flores secas, o incenso do oratório, um cheiro adocicado, o medo do inferno.
Depois, apresentou-se vingativo e injusto, um velho abusado do Velho testamento, manifestado pelas leituras de um Bíblia encontrada na gaveta de uma prateleira na casa da minha irmã. Para mim, Ele era como um papa-figo. Eu não o respeitava. Temia-o. Eu gostava mesmo era das histórias.
Isto perdurou por muito tempo, avançou pela adolescência até eu abusá-Lo, como quem, quando come em excesso, abusa doce de coco. Afastei-me D’ele para respirar. Confesso que não sei se Ele, teimoso como sempre foi, se afastou de mim, o que me era indiferente.
Ou não… Como dizia Caetano Veloso. Não demorou, fui obrigado por um pároco da cidade, professor do colégio estadual de Uiraúna, a copiar, em trezentas folhas de papel almaço, os evangelhos. Comecei pelo de São Marcos. Não adiantou. O que nos enfiam pela goela abaixo não provocam efeitos de bom grado.
No segundo grau, pela canção de São Francisco, fui apresentado a outro Deus. Mais jovem, cabelos longos, parecido com as músicas de Belchior. A música, que era de Roberto Carlos, era empolgante: “Jesus Cristo, Jesus Cristo…”, algo que, de alguma maneira, nem combinava com o sentimento que, lá atrás, eu sentia, acompanhando a crucificação daquele homem nas sextas feiras santas, em um velho rádio de oito pilhas.
Na universidade, o bicho pegou: contestação, ditadura militar, relativização, Política. Deus estava dentro de tudo isso, atravessado, vendo lá de cima, mas de soslaio.
Depois, o dever engoliu meu tempo. Silêncio.
Hoje, mais educadas, nossas brigas continuam. Às vezes, sem razão. Erro meu ou dele. Os meus, Ele já os conhece bem. Os Dele, eu não os perdoo. Quem já se viu deixar ladrões tomarem conta dos seus templos? Sei não, viu? A nossa briga vai ser eterna.
@professorchicoleite

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Mocinhas submissas : as servas analfabetas do Senhor https://www.maispb.com.br/728718/mocinhas-submissas-as-servas-analfabetas-do-senhor.html Fri, 21 Jun 2024 10:00:28 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=728718 O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo horizonte, divulgou no X um vídeo em que incentiva os pais a não colocarem seus filhos nas universidades: “Se a faculdade vai acabar com a vida do teu filho, não manda ele para a faculdade. Não manda! Vai vender picolé na garagem. ‘Ah, mas […]

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O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo horizonte, divulgou no X um vídeo em que incentiva os pais a não colocarem seus filhos nas universidades: “Se a faculdade vai acabar com a vida do teu filho, não manda ele para a faculdade. Não manda! Vai vender picolé na garagem. ‘Ah, mas eu não criei meu filho para isso’. Você criou para quê? Para ele ir para o inferno, pô?”.

E prossegue, com recado dirigido para as mulheres: “Criou a sua filha para quê? Para virar uma vagabunda? Ou você a criou para virar uma mulher santa, uma mulher digna de família? Aí ela tem um diploma, é rodada, é doida…”.

O pior não foi o que o estrupício disse. Gente, as mulheres santas da plateia aplaudiram o pilantra. O que fumaram? Ou estavam trepadas em algum pé de goiabeira?

Para esses pastores irresponsáveis e para outros extremistas de direita, as mulheres que estudam viram vagabundas, rodadas, doidas. Para eles, as universidades são lugares satânicos, indignos. Pecaminosos, subversivos, libertinos.

Para eles, mulheres devem ser escravas da ignorância, se submeterem às suas lascívias quanto pintar um clima, como já disse certo político adorado pelos malafrias da vida. Ou para obedecerem cegamente às suas ordens, pagarem penas superiores aos seus algozes estupradores, serem exploradas pelos capitalistas empreendedores com salários vis, mãos-de-obra de trabalhos subalternos,  mercadoria, enfim.

Não sei se o ignóbil tem filhos e filhas. Caso os tenha ou venha a tê-los, será que serão proibidos de estudar? Será que irão empreender vendendo picolés em alguma garagem, ou irão fundar alguma igreja imune de impostos, explorar fiéis, vender a eles um pedacinho do céu, arrancar-lhes a alma e por merda no lugar?

E tem algo pior. Esses talibãs não só querem domar o Brasil pelo fundamentalismo religioso, por burcas nas mulheres, deixar a terra arrasada. Querem mais:  querem lotar o céu de uma gente analfabeta. Como pode isso? Essa gente não crer em Deus!

Veja o vídeo aqui: Pastor André Valadão diz a fiéis para não mandarem filhos para faculdade: ‘Vai vender picolé’; vídeo (youtube.com) .

@professorchicoleite

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Quinto constitucional e nepo babies https://www.maispb.com.br/727578/quinto-constitucional-e-nepo-babies.html Fri, 14 Jun 2024 10:00:56 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=727578 Li no portal UOL que Sasha Meneghel é uma “nepo baby”. Também seriam Yasmin Brunet, Wanessa Camargo, Sandy e Júnior Lima, Maria Maya, Luisa Arraes e outros. Sacou, não é? Segundo a matéria, o termo deriva das palavras “nepotismo” e “baby”, alguma coisa parecida como “filhos do nepotismo”. Para a reportagem, essas pessoas, por serem […]

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Li no portal UOL que Sasha Meneghel é uma “nepo baby”. Também seriam Yasmin Brunet, Wanessa Camargo, Sandy e Júnior Lima, Maria Maya, Luisa Arraes e outros.

Sacou, não é? Segundo a matéria, o termo deriva das palavras “nepotismo” e “baby”, alguma coisa parecida como “filhos do nepotismo”.

Para a reportagem, essas pessoas, por serem filhos, netos ou afilhados de pessoas famosas, têm conexões poderosas, e por isso, contam com uma “ajudinha” no caminho da fama.

Pensando no poder político, os municípios brasileiros são dominados por esse tipo de gente, nepo babies, famílias inteiras dominando, por gerações, o cenário político das cidades.

O poder que detém é engendrado em uma rede labiríntica de conchavos, conexões, troca-trocas, nepotismo cruzado e variados laços de compensações recíprocas, irradiando-se pela galáxia dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, com o apoio massivo da mídia, quase sempre pertencente a esses mesmos grupos.

Dizem esses herdeiros das benesses que, na base das posições que ocupam, está a meritocracia. Eles vendem essa ideia com dupla intenção: i) legitimar as posições ocupadas; ii) assacar culpas naqueles que, por suposto demérito, estão na base da pirâmide social.

Até entendo que, excepcionalmente, algumas pessoas chegam “lá” por mérito. A esmagadora maioria, por serem nepo babies, começa a corrida com muitos quilômetros na frente dos demais:  boa alimentação, moradia, escola, espaços sociais de convivência, rede de contatos, etc.

A matéria me fez refletir. Como há de se competir assim? Sem igualar as condições iniciais das disputas, é hipocrisia falar em meritocracia como critério de distribuição dos bônus sociais, daí a necessidade das compensações, das quotas, da paridade de armas, etc.

Para falar em paridade, a OAB-PB deu início ao processo de escolha de advogados e de advogadas para compor uma lista sêxtupla de onde sairá um(a) desembargador(a) para o Tribunal de Justiça da Paraíba. Não sei quem são todos os concorrentes, mas uma pergunta me veio à mente: Algum (a) do(as) candidato(as) é nepo baby?

@profchicoleite

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Vida simples https://www.maispb.com.br/726429/vida-simples.html Fri, 07 Jun 2024 10:00:24 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=726429   Uma vida simples nos pouparia de muitas afrontas. Dormir quando o sono nos convidasse, em qualquer hora e lugar. Acordar sendo dono do tempo, espreguiçar até os ossos estalarem, ainda sonolentos, mas já dispostos para outras brincadeiras. Ouvir o pulsar da natureza nos cantos dos passarinhos, no balançar das ondas do mar, no levitar […]

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Uma vida simples nos pouparia de muitas afrontas. Dormir quando o sono nos convidasse, em qualquer hora e lugar. Acordar sendo dono do tempo, espreguiçar até os ossos estalarem, ainda sonolentos, mas já dispostos para outras brincadeiras.

Ouvir o pulsar da natureza nos cantos dos passarinhos, no balançar das ondas do mar, no levitar da folha seca plainando sem rumo, no labor do vento. E sorver o silêncio, onde silêncio houvesse.

Colher uma manga no pé, imitar o canto do bem-te-vi, brincar de cabra-cega, jogar pião, abrir-se para o mundo como são abertos os sorrisos das crianças quando abraçam suas mães.

Uma casinha enfeitada, com flores na varanda, céu estrelado, mergulhar na água fria dos riachos mais enxeridos. Sentir a vida, o tum tum do coração, a respiração e a comunicação que ela nos transmite, que é farta e acalentadora.

Roupas, na necessidade do frio; comida, na refrega da fome; segurança, muita, afinal ninguém estaria tão deturpado do juízo querendo segurar dinheiro. Muito amar, pois o amor é como a própria vida, pleno, abundante, teimoso, muito embora, pela compulsão capitalista, ele esteja contado e medido, produto das prateleiras físicas e digitais.

Livros, o cheiro deles, o passatempo, as viagens por onde nos conduz. Uma roda de histórias porque todos têm muita história para contar. As danças seriam quotidianas, mas não precisavam vender as almas no mercado do Tic-toc.

Banhos de chuva nas biqueiras das casas. Roletes de cana de açúcar, rodelas de abacaxi nas festas das padroeiras, se bem que cada um seria padroeiro de si mesmo. Vinho ou uma cachacinha, uma farofada na praia, dois metros de sorriso, olhar brilhoso pregado no presente, já que não haveria vida eterna para cuidar.

Todas as festas seriam gratuitas porque não existiam safadões para capitalizá-las, tampouco gestor público de mau coração. A vida seria simples, bem simples, como a singeleza de um cafuné em seu cachorro.

Todos seriam exuberantes porque para a exuberância fora dada a oportunidade de se manifestar em cada um: no sorriso, no cabelo, na cor da pele, no olhar, no conduzir-se, no amar.

Ah, e as praias seriam públicas. Sim, por incrível que pareça.

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Maria Dantas, o começo https://www.maispb.com.br/725271/maria-dantas-o-comeco.html Fri, 31 May 2024 10:00:41 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=725271 Abriu meu mundo além das lamparinas e enxadas, em um tempo em que, no alto sertão da Paraíba, o Estado era de uma ausência assombrosa. Professora de gente simples. Pessoas sujeitas a um horizonte tacanho, esperança castrada, as necessidades básicas nos enterrando nas profundezas da terra seca. Eu estava lá para testemunhar. Cheguei aos nove […]

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Abriu meu mundo além das lamparinas e enxadas, em um tempo em que, no alto sertão da Paraíba, o Estado era de uma ausência assombrosa.

Professora de gente simples. Pessoas sujeitas a um horizonte tacanho, esperança castrada, as necessidades básicas nos enterrando nas profundezas da terra seca.

Eu estava lá para testemunhar. Cheguei aos nove anos. De início, a escola funcionava na casa dela. Uma mesa na sala do meio, dois bancos, giz, um quadro verde, todos desconfiados como bichos do mato, o que, de fato, éramos.

A mesa ficava em frente ao quarto do casal. Um guarda-roupa enorme: folhas de papel, provas para corrigir, livros, diários velhos, cartilhas, a anarquia própria dos guarda- roupas de todos professores e professoras.

No meu livro “Os longos olhos da espera”, Maria Dantas é citada várias vezes. Muito justo. É parte dele, testemunha, cúmplice, agente, incentivadora, ainda que não soubesse que um dia eu escreveria livros.

Pessoa digna, forte, imponente. O Sítio Saco Sinhazinha jamais a esquecerá: ela alfabetizou, instruiu e conduziu os filhos da comunidade. É a nossa parteira da educação.

Não a imagino morta. As professoras das primeiras letras se eternizam como o ígneo magma que alimenta os vulcões da sabedoria. Encantadas, se tornam letras também – ou a alma delas – vogais que preenchem o mundo de possibilidades comunicativas, de sons e de harmonia.

Imagino-a como a letra “A”.  Amplitude, amor, árvore frondosa que se abre e esparrama esperança, abraça como as mães que ligam as pernas da letra “A” com um banquinho e nele sentam seus filhos para educá-los e contar histórias.

Nos anos 60/70, naquele fim de mundo, só ela sabia que a educação poderia salvar os nascidos nos pedregulhos, filhos das secas, nos livrar das frentes de trabalho, do analfabetismo, da ignorância.

Tirando os dias de aulas, que para mim eram encanto, os dias em que mãe ia visitá-la era encanto maior. Café, bolacha comum, suco, queijo assado. Eu, diante de duas mães, cada qual em  sua missão. Madrinha Maria Dantas me elogiava. Eu sequer sabia fazer o “A”, mas ficava  ancho como um cururu teitei.

Maria Dantas não morreu.  Ela vive na letra “A”. Eu juro.

@professorchicoleite

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Anime-se! https://www.maispb.com.br/724251/anime-se-2.html Fri, 24 May 2024 10:32:38 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=724251 Sair da zona de conforto. Arriscar-se. Tudo que é novo experimenta um plus, um tipo de energia que sempre pronuncia algo a mais, mesmo que esse acréscimo seja a experimentação do menos posto que a lei das mutações não se submete a um continuum progressivo, ascendente ou decrescente, necessariamente. O importante é que, pela mudança […]

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Sair da zona de conforto. Arriscar-se. Tudo que é novo experimenta um plus, um tipo de energia que sempre pronuncia algo a mais, mesmo que esse acréscimo seja a experimentação do menos posto que a lei das mutações não se submete a um continuum progressivo, ascendente ou decrescente, necessariamente.

O importante é que, pela mudança que se impõe como condição das existências, a nova configuração do ser de potência se faça movimento, nova lucidez e espetacularidade. Um salto eficaz na sua estruturação ontológica, um ser doravante dotado de novas ou renovadas possibilidades, abismado em si, abismo para os outros, um templo de admiração e respeito, ainda que apenas pó em cada estágio das mudanças.

Ganhando ou perdendo energia ou algum atributo qualquer, o ser que muda quer vida. É a vida. O que se eterniza, porém, quer morte, por isso tudo que é eterno é silêncio, se é que se possa, em clareza necessária, pensar o eterno como realidade.

A vida é a algazarra alvissareira que as mudanças propiciam. Esse é o milagre. O milagre é a regra. As sobras são derivações grosseiras, o refugo das máquinas moedeiras que as eras evacuam.

Isso é fantástico. Todo novo ser que brota deixa um rastro de morte para trás; todo ser que morre prediz e alimenta um rastro de possibilidades de infinitas vidas, como se vida e morte fossem a simbiose paradoxizada da maneira de como as coisas e os seres se expressam e se desparadoxizam.

Uma só realidade, o nada-tudo quânticos amalgamados um no outro, porque sozinhos, se é que se possa pensar assim, não se sustentam. Nem graça tinham. O ser-não-ser só aparentemente não se avizinham.

Um absurdo, dirão. São os absurdos que importam, por isso nada é mais paradoxal do que as mudanças. Elas são morte e vida a um só tempo. Tudo só depende de como os pontos cegos da existência e da não-existência pontuam os destinos, as alegrias, as tristezas e os desatinos que as mudanças propiciam.

Ninguém, nesse mundão de meu Deus, nasceu para ser. Ser é apenas um instante, átimo de medida nos corredores do tempo. Ser alguém apequena as pessoas,

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Acabou-se a noite, mas a escuridão chegou https://www.maispb.com.br/723035/acabou-se-a-noite-mas-a-escuridao-chegou.html Fri, 17 May 2024 10:00:06 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=723035 Tudo deveria estar muito claro, posto que a noite se acabou. Subtraída a noite, restaria a luminescência do dia, mas esse, paradoxalmente,  está mais escuro. Com a noite, morreu o passado. Não há mais o raiar do dia, tampouco o poente importa. Sem a inspiração da noite, todos pecam às escâncaras desde a autora. E […]

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Tudo deveria estar muito claro, posto que a noite se acabou. Subtraída a noite, restaria a luminescência do dia, mas esse, paradoxalmente,  está mais escuro.

Com a noite, morreu o passado. Não há mais o raiar do dia, tampouco o poente importa. Sem a inspiração da noite, todos pecam às escâncaras desde a autora. E não dormem. O futuro caminha ligeiro para ser passado, porque tudo que era noite se fez presente bem curto, instantes engolidos

Foi o capitalismo quem engoliu a noite e todos sabem que era na noite que as pessoas deitavam o descanso. Hoje, todos estão cansados às claras, trabalhando dia e noite, pois a noite é tempo de trabalho, afinal ela não precisa de paradas.

Tínhamos dia e noite para viermos e para morrermos, mas hoje em dia, só morremos  de frente de uma claridade rasa cheia de produtos rasos que nos saltam aos olhos piscando mensagens luminosas e atrevidas. Vivemos no centro de uma Via láctea de mentirinha. Para que olhar o céu estrelado, se as estrelas também foram devoradas pelos bits das telas capitalistas?

Foi-se o tempo das esperas por um novo dia. A paz é chacoalhada dentro dos minutos lotados, sacudidos nos trens da vida, dia e noite; morre-se nas fábricas de serviços dia e noite. A fábrica de serviços está na palma das nossas mãos, mastigando o tempo, encolhendo-o, distorcendo-o, engabelando-o. Nascente e poente estão cada vez mais próximos, emendados, afinal é preciso comprar e vender mais, muito, rápido, qualquer coisa, para qualquer um, antes que nova oferta fabrique nova ansiedade.

As horas já são minutos. Minutos já são segundos, metas cronometradas, um círculo viciado, brilhoso em alta velocidade; tudo é dia, dia e noite, embora todos estejam no escuro. E não há retorno. Não há como pegar de volta as nossas identidades perdidas em cada minuto que passou. Nessas condições, quem há de questionar, pensar a vida, viver o ócio, questionar a morte e os pecados do sistema? Sim, estamos perdidos.

@professorchicoleite

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Tudo sou eu nessa casa https://www.maispb.com.br/721969/tudo-sou-eu-nessa-casa.html Fri, 10 May 2024 10:00:07 +0000 https://www.maispb.com.br/?p=721969 (Que mãe nunca disse essa frase?) E o filho da puta do Fabrício com a cara mais deslavada do mundo vem me pedir cinquenta reais emprestados. Escroto! Saiu de casa de manhã. Foi esfriar a cabeça com uma breja gelada acompanhado dos amigos do futebol. A  escrava, não! Acordou-se às cinco horas com a cara […]

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(Que mãe nunca disse essa frase?)

E o filho da puta do Fabrício com a cara mais deslavada do mundo vem me pedir cinquenta reais emprestados. Escroto! Saiu de casa de manhã. Foi esfriar a cabeça com uma breja gelada acompanhado dos amigos do futebol.

A  escrava, não! Acordou-se às cinco horas com a cara mais amassada do que um maracujá seco. Forrou a cama das crianças, passou a camisa de Juninho, que há dias ia todo engelhado para a escola, lavou os pratos do jantar do outro dia, fez uma omelete relâmpago para Celinha, pôs uma tonelada de roupa suja na máquina, lavou os banheiros, sentou-se.

Sentar-se? Há,há,ha! Sininho pulou no meu colo e latiu:

– Mamãe.

A bichinha estava um horror. Tinha carrapato até no fiofó. Corri para a Petalegria, providenciei o que tinha de providenciar, lavei Sininho, pus o vermicida, beijei a cabecinha dela, mas o dia ainda era a proa do seu início.

A geladeira estava imunda. Cuidei disso. Desentupi duas bocas do fogão, piquei a verdura e temperei a carne da semana, varri a casa, passei um pano molhado no piso, tirei a roupa do varal, cortei as unhas de Juninho, que pareciam garras afiadas, organizei as gavetas do guarda-roupa, separei a papelada para o empréstimo da casa, pus a panela no fogo, mas vi que tinha acabado o arroz. Fui à mercearia. Voltei afogueada do juízo.

Lá do quarto, Celina gritou:

– Mamãe, quanto é a raiz quadrada de 136?

– Celina, mulher, pesquise. Não tenho cabeça pra isso e se tiver, ela deve ser raiz quadrada de um número negativo.

Celina riu bem alto.

Fabrício chegou por volta das 13 horas. Pendia de um lado para o outro. Com a voz trôpega, sem um tostão furado no bolso, quis me engabelar:

– Por que não almoçamos no bar do Zeeeeca?

Eu olhei o canalha de soslaio. Tive pena. E nojo. Peguei o celular, pesquisei por Valdique Soriano, aumentei o volume o máximo que pude:

–Eu não sou cachorro não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro não…

Meu Deus! Mais branca do que  uma tapioca de coco, Celina aparece na cozinha com os olhos espantados:

–Mamãe, mamãe, menstruei.

Era Dia das Mães. Ali com uma mocinha agarrada no meu abraço, chorei, chorei, chorei.

@professorchicoleite

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